O termo “aero”, disparado, é uma das palavras que mais escuto aqui no studio durante uma sessão de bike fit e sem dúvidas é uma variável extremamente importante para nossa performance no ciclismo. Mas como tudo no ciclismo, nos deparamos com diversos mitos e informações sem nenhuma consistência e às vezes, sem nenhuma lógica.
Dividirei esse artigo em duas partes, na primeira falaremos um pouco sobre os conceitos envolvidos e na segunda parte irei focar no que pode ser feito no posicionamento do ciclista para obter um bom coeficiente aerodinâmico e os cuidados que devemos ter.
Estar em uma posição mais aerodinâmica, no geral, é estar mais eficiente em cima da bike. Uma condição mais “aero” demandará menos energia (potência) do ciclista para atingir e manter determinada velocidade. Mas como tudo que envolve o corpo humano, essa não é uma regra. Diversos fatores biomecânicos e metabólicos estão envolvidos nessa conta.
Para entender essa dinâmica melhor, iremos voltar alguns passos e explicar um pouco sobre as forças que atuam contra o ciclista na pedalada e como isso afeta diretamente nossa performance na bike.
Quando subimos em cima da bike para fazer nosso pedal, temos a intenção de nos deslocar de um ponto “x” até um ponto “y”, mas para efetivar esse deslocamento diversas “forças ocultas” que estão incidindo sobre nós devem ser vencidas. São algumas delas: - Resistência de rolagem dos pneus. - Resistência do ar. - Peso da bike. - Peso do ciclista. Cada uma dessas forças terá um grau de relevância dependendo do percurso, do terreno e da velocidade que estamos. Exemplificando: Quando estamos subindo uma serra íngreme, o peso da bike, o peso do ciclista e a força da gravidade são as variáveis que mais dificultam nosso deslocamento morro à cima. Já em um percurso plano, onde temos um maior contato com o vento frontal, a resistência do ar passa a ser a variável que mais incide sobre nós e mais prejudica nosso deslocamento.
Mas como podemos tirar proveito dessas informações?
Em uma condição de subida íngreme faz mais sentido o ciclista focar sua atenção em ter uma bike mais leve e um menor peso corporal. Ou seja, os componentes aerodinâmicos e o posicionamento aerodinâmico não trazem ganhos significativos nesse cenário.
Não é à toa que vemos ciclistas mais magros obterem um melhor resultado em provas desse tipo. Observamos também uma escolha de mais bikes leves, até com designs mais simplistas nessas situações.
À medida que a inclinação vai diminuindo e vamos entrando em um terreno plano a incidência das forças vão se alterando, o peso da bike vai perdendo sua significância, enquanto a área que o ciclista ocupa no espaço (área frontal) vai se tornando cada vez mais relevante. É onde começamos a ver as famosas “Aero Roads” bikes que costumam ter uma melhor performance no plano com seu design mais “achatado”. E é também nesse cenário que o ciclista deve se atentar a sua posição corporal e “se esconder” do vento, já que a área frontal se torna fator determinante para sua performance.
A baixo trago alguns dados que mostram a relação da energia que é gasta pelo ciclista para vencer as “forças ocultas” em uma situação de percurso plano em determinada velocidade:
“Dados coletados pela equipe de engenheiros e aerodinamicistas da SWISS SIDE, apontam que o PESO TOTAL (ciclista+bike) demanda apenas 16% da energia.
E incríveis 69% da energia é utilizada para vencer a resistência do ar (percentual para uma velocidade de 35km/h em percurso plano).
Os 15% restantes são referentes a resistência de rolagem do contato dos pneus com o solo. Em termos práticos, se você aplica 200watts de potência para se manter a uma determinada velocidade, 138watts destes estão sendo utilizados para vencer a resistência do ar.”
Muitos atletas buscam cada vez mais adquirir componentes para deixar a bike mais aero, mas não se atentam que, a massa corporal do ciclista é responsável por ocupar a maior parte no espaço e como resultado disso, o posicionamento do ciclista em cima da bike pode trazer ganhos aerodinâmicos muito maiores do que a troca desses componentes, além de ter um custo financeiro muito menor. Na parte 2 desse artigo, conversaremos um pouco sobre os ganhos que podemos ter com um bom posicionamento, escolha de alguns equipamentos e também sobre as tendências de setups que vemos atualmente no cenário do triathlon mundial.
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